ANDERSON, Perry. Europa Oriental. In: Linhagens do Estado Absolutista. P. 195-235
Segundo Perry Anderson, devido à repressão dos senhores de terra contra os camponeses, no século XVI, surgiu o absolutismo no Leste. Diferentemente do absolutismo no Ocidente, onde o estado absolutista significou um aparelho recolocado de uma classe feudal para compensar a extinção da servidão, no contexto de um crescimento das cidades que esta classe não conseguiu controlar totalmente, o absolutismo no Leste, foi uma maquina repressiva violenta que supriu as propriedades comuns dos pobres para consolidar a servidão, num contexto de inexistência de cidades autônomas. Em outras palavras, o absolutismo no Leste, significou um novo mundo a ser implantado, de cima para baixo.
Anderson ressalta a idéia de que a luta de classes não é o bastante para explicar o surgimento de um tipo diferente de absolutismo, mas o primeiro passo é reinserir o processo da segunda servidão no sistema político internacional da Europa feudal, em sua ultima fase.
O absolutismo oriental é determinado por coações do sistema político internacional, no qual a nobreza estava integrada na nova burocracia (monarquia absoluta) por ela criada. Ao contrario do ocidente, no Leste, não houve venda de cargos e o serviço público era todo profissionalizado, inexistindo uma classe burguesa urbana, sem a necessidade então de ter um setor mercantil. E foi sobredeterminado por lutas de classes (a institucionalização da servidão e a inauguração do absolutismo estavam atreladas às formações sociais). O pacto feito entre monarquia e aristocracia, estabelecia o absolutismo em troca da servidão, acarretando o desaparecimento do sistema de Estados.
As cidades se revoltaram contra o aumento de preço das mercadorias devido ao aumento de impostos, mas rapidamente tais manifestações foram sufocadas. A repressão maior se deu no campo, contra o campesinato, já que estava havendo uma crise de mão-de-obra, devido a guerras e desastres civis, cuja iniciativa da classe senhorial foi deter a mobilidade do camponês o prendendo às terras de acordo com a legislação senhorial, e não em tributá-los como no ocidente. A função do absolutismo era converter a teoria jurídica em pratica econômica, pois as jurisdições já não detinham tanta influência sendo necessário então de um aparelho centralizado e repressivo, para defender a nobreza feudal tanto dos rivais estrangeiros quanto dos camponeses do próprio oriente. Fala-se aí de uma nobreza de serviços, pois o entrosamento entre Estado e aristocracia era tão grande que os uniam por interesses comuns.
Ressalta também, um equivoco quando atribuímos o impacto da economia ocidental mais avançada sobre o Leste, como exclusiva ou principal responsável pela reação da classe senhorial. Para ele, está idéia é implausível, tanto dos vínculos econômicos de importação quanto de exportação, pois o investimento estrangeiro era mínimo e o comercio externo era em pequena porcentagem já que o sistema feudal era incapaz de criar um sistema econômico internacional unificado.
Para Anderson, então, o impacto do Ocidente sobre o Oriente foi no setor político e não no econômico, já que o modo de produção era baseado na coerção extraeconômica (conquista) e não no comércio. Isto é, a mediação entre eles, se dava pela pressão militar, onde o Leste fora forçado a adotar o absolutismo, faz-se necessário uma citação de Treitschke, que diz: “A Guerra é o pai da cultura e a mãe da criação”, pois toda a organização funcional estava interligada com os objetivos militares que correspondia com expansões e conquistas. A ameaça militar do Ocidente sobre o Oriente foi indireta e transitória, e não podemos cometer o erro de pensarmos que o processo se deu da mesma forma e teve os mesmos resultados para todas as regiões do Leste. Pois a Suécia foi o flagelo do Leste (sendo um país recente, com população limitada e de economia rudimentar), que por meio das guerras impacta a Prússia, Polônia e a Rússia, sendo uma das maiores expansão militar do absolutismo Europeu.
Anderson descreve em cada área como se deu o absolutismo. Na Prússia, se deu devido à pressão da expansão sueca. Na Polônia, a Suécia também a invade, mas incapaz de se recuperar, pois a nobreza não conseguiu implantar o absolutismo já que lá havia ocorrido a maior insurreição camponesa da época - o levante ucraniano de 1648, que devido a uma mobilidade camponesa originou as massas rurais plebéias que eram capazes de organizar exércitos contra a aristocracia feudal, deixando assim, de existir como um Estado independente. Já na Rússia, o absolutismo ocorreu em detrimento de a nobreza já impulsionar para uma monarquia militar, já que os cavaleiros estavam incapacitados de realizarem conquistas, e para suportarem tal situação, centralizam o Estado. O momento de transição para o absolutismo ocorre paralelamente com a expansão sueca.
Na parte de seu texto intitulada “Nobreza e monarquia: a variante ocidental”, Anderson, quer investigar a nobreza de serviços. Ele atenta para 2 traços que afirmam falta de uma síntese feudal: o sistema de feudo nunca se estabeleceu(suserania não apareceu quando havia posse condicional da terra) , anulando as cidades e a redução do campesinato à servidão. Lembra-nos que, além disto, vale o caráter peculiar da nobreza que as realizou que assegurava a sua riqueza e poder na posse estável da terra, e não na permanência temporária no Estado.
No século XVIII o absolutismo estava no seu apogeu político, pois havia uma reconciliação entre monarquia e nobreza.
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