sábado, 26 de novembro de 2011

Escravos e libertos no Periodo colonial

RESENHA
WOOD, A.J.R.  Escravos libertos no Brasil colonial. Rio de janeiro: Civilização brasileira, 2005. p. 235-282

As irmandades foram uma das maneiras pela qual os indivíduos de ascendência africana, escravos ou libertos, conseguiram encontrar coesão e unidade de propósito e agir coletivamente no ambiente social e econômico da escravidão.  Essas dimensões étnicas, comunitárias e de parentesco encontrariam sua maior expressão no comportamento domestico.

O historiador Gutman contribuiu para a historiografia da América do Norte Inglesa, atingindo o passado, o presente e o futuro dela e também traz lições para cerca de 20 republicas das Américas que contam com populações de ascendência africana. O seu ponto de partida é um relatório preparado pelo ministro do trabalho dos EUA. Na América Espanhola e portuguesa há a divulgação de opinião de que a família negra se caracteriza pela instabilidade imputável às pressões exercidas pela escravidão. Levanta algumas das questões que de senso comum costumamos a achar que são verdadeiras, tais como: escravas não tinham conceito de honra sexual; escravos eram licenciosos e promíscuos; os negros se juntam e não se casam; os filhos eram ilegítimos; vida familiar e os laços de parentesco tinham sido destruídos pela venda, pela oposição do dono ao casamento; os poucos lares eram matriarcais; os escravos não exerciam a capacidade de tomar decisões e a de que lhes faltava um conjunto estabelecido de valores, crenças ou costumes que conduzissem os seus comportamentos, seguindo de forma mimétrica os arranjos domésticos, o estilo de vida e a escolha dos nomes; de que faltava aos negros a capacidade de se adaptarem à civilização das “raças superiores”.
Pois bem, pra Gutman, nos EUA, libertos ou escravos, mantinham crenças e valores que orientavam o seu comportamento domestico, ou padrões de namoro, aliança sexual e acasalamento; havia fortes sanções sociais contra promiscuidade ou a infidelidade conjugal (os tabus enraizados em crenças exogâmicas impediam que os negros seguissem o costume de endogamia e a do casamento entre primos); os casamentos eram estáveis e permanentes; a família era constituída por pai e mãe, e o primeiro tinha papel ativo; os laços de parentesco familiar ou consangüíneo mostram-se sólidos e resistentes, exemplificando a independência, identidade e uma cultura afro-americana intocadas pelas restrições dos proprietários; os filhos recebiam o nome da família consangüínea ou nomes que os ligavam a gerações anteriores de afro-americanos (transmitiam assim um senso de identidade associativa). Em suma, Gutman afirma que estas questões são produtos de um processo de mudança social e cultural adaptativa enraizada num sistema de valores e crenças partilhadas pelos afro-americanos.
  Gutman testou a validade de sua tese de duas formas. Primeiro examinando os escravos de 6 comunidades de plantations com características diferentes, e em segundo lugar, testando a preservação das crenças e dos valores e a viabilidade dos mecanismos de adaptação quando confrontadas por circunstancias externas sobre as quais os escravos não podiam exercer controle algum. A pedra fundamental de Gutman foi o registro de nascimento do plantation Good Hope (trata de todos os aspectos da experiência afro-americana, do nascimento da África, passando pela escravidão, pela escravidão numa plantation da América, pela emancipação e vai até o renascimento como liberto).

As coroas de Espanha e Portugal e a política eclesiástica de seus impérios nas Américas encorajavam os casamentos de escravos e a proteção de famílias escravas. Entretanto, a preocupação real inspirava-se menos no interesse altruísta pelo bem estar social e moral dos escravos de que os escravos envolvidos em uniões permanentes e com família tinham maior probabilidade de ser mais produtivos e menos tendenciosos a ameaçar o status quo social e econômico pela fuga ou rebelião. Outro ponto que quero destacar é a regularização das uniões ilícitas do proprietário com as escravas, e que acabam tendo uma desaprovação real, pois seria uma via para a liberdade, aumento da população mulata livre, e aumento do prestigio do escravo. O uso do sexo também se destaca nesta época, pois era usado para manipular ou dominar pessoas inferiores (mulheres eram estrupadas, sodomizadas e agredidas sexualmente; os negros eram passivos na relação).

Depois o texto traz alguns dados, onde a primeira opção de um mulato livre era uma mulata livre, depois uma mestiça, depois uma índia e em ultimo uma negra. Só aí, percebemos como eles eram desvalorizados.
Os escravos tentavam minar as tentativas de seus donos de forçá-los a casar contra vontade, com medidas conscientes (suicídio, homicídio, aborto). Em suma, o cerne do pensamento do autor está na questão da família, que era a força protetora para os indivíduos de ascendência africana, não só contra a exploração dos brancos e dos donos como também contra as pretensões do Estado. Representavam assim, uma alternativa, fosse um ponto focal para a lealdade, a ênfase no altraismo em vez do materialismo, a afirmação dos valores humanos acima, do ganho material ou da continuidade acima do transitório.
O texto é bom, mas muito cansativo, devido ao grande numero de informações e repetições destas ao longo dele.
O trabalho de Gutman vem pra quebrar aquele paradigma que construímos, ou melhor, foi construído por uma historiografia até os anos 70. Vale a ressalva de que ele não foi o primeiro a fazer isto.
Com base visto nas aulas, a tendência dominante de quando se fala em escravidão, é a de pensarmos os escravos como sujeitos participantes da história e produtores desta, os vendo como sujeito de sua própria história, que desenvolveu uma sabedoria política, conquistando espaços de autonomia.
Em suma, o texto foi proveitoso(informativo), pois nos ajuda a quebrar com questões normalmente impostas pelo senso comum, tidas como verdades absolutas.

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