sábado, 26 de novembro de 2011

A inquisição para Green

GREEN, Toby. A inquisição. O reino do medo. Lisboa. Editorial Presença, 2010.

Em 11 de março de 1649 no México, cavalos dos músicos seguidos pelos ministros (empunhando os escudos de armas da inquisição que mostravam o combate entre a paz e a violência com cruz no centro, ramo de oliveira á direita e espada a esquerda), seguidos pelos ministros do santo ofício e da nobreza dirigiam a procissão do primeiro responsável pela Inquisição, anunciando o auto-de-fé, que era um espetáculo.
Catorze relaxados foram garrotados e depois queimados e um morreria na fogueira (Tomás Treviño) por praticarem secretamente a religião judaica. Efígies de 67 pessoas e 23 caixões com ossadas foram queimadas. Cada relaxado era acompanhado por dois confessores (muitos choravam ao fazê-lo). Eram seguidos pelos padres da Inquisição a cavalo e por uma mula que carregava um baú que continha os processos e as sentenças.
O padre Bocanegra maravilhava-se com asa ações do inquisidor-mor Mañozca, que segundo ele, administrava sempre a justiça ligada com a paz, mas Mañozca chamava os marcadores da praça para se apoderar do que lhes pertenciam, importava e exportava mercadorias ilegalmente e tinha ligação com uma mulher casada. Então era impossível estabelecer uma distinção total entre os perseguidores da heresia e os próprios heréticos, parecia que uns necessitavam dos outros.

De 1478 ao inicio do século XVIII, a inquisição foi a instituição mais poderosa da Espanha. A inquisição foi uma força significativa em quatro continentes e durante mais de três séculos. O longo período se deu pela vasta tipologia dos crimes (julgamento de bruxas no México, de bígamos no Brasil, de pedreiros livres sediciosos, de hindus, judeus, mulçumanos e protestantes, padres fornificadores e marinheiros sodomitas).    
A semelhança entre a Inquisição de Portugal e Espanha está nos interesses que ambas manifestaram por lugares muito afastados entre si. Havia sempre novas vitimas a serem perseguidas sem heresias aparentes ou por fato político. A inquisição de Portugal e Espanha deve ser analisada em conjunto. O regimento de ambas era quase idêntico, assim como a perseguição aos criptojudeus e ter ficado subordinada ao poder real e não ao papado. Além disso, ao contrario do papal e medieval, a nova Inquisição estendeu-se as colônias.  A diferença é que a inquisição necessitava exercer diferentes tipos de controle social. Na Espanha, a fé tradicional não estava em causa (anão ser pelos cristãos-novos, mouriscos e protestantes) e no Novo Mundo, estava a se constituir uma sociedade inteiramente nova, precisando que se estabelecesse até os valores corretos.
A concentração nestas inquisições reside na história do poder e de abuso de poder. Portanto os abusos não tiveram caráter religioso, mas político.
A Inquisição lançou a semente do estado totalitário, de abuso racial e sexual. A novidade da inquisição espanhola não era a perseguição, mas a institucionalização da perseguição. A Inquisição foi à primeira instituição opressora da sociedade, contudo não foram só os cristãos-novos a sofrer. Agia em diversos níveis e instala a cultura do segredo (nomes dos denunciantes não eram revelados). A dificuldade em impor a a Inquisição estava no cosmopolismo, e após sua destruição Espanha e Portugal acabam com a capacidade de seus representantes agirem no mundo. Qualquer dado estatístico humano representa porcentagens mais elevadas do que representaria hoje, porque o numero de mortes é inferior ao que esperávamos. O período de maior severidade foram os 50 anos que seguiram sua fundação, em 1478. Alguns historiadores dizem que a Espanha foi vitima da “lenda negra” que pinta a violência de sua inquisição. A lenda negra originou-se no século XVI após o papa liberar Alfonso Díaz que denunciou seu irmão por ter virado protestante e este sendo morto. O caso foi divulgado aos católicos em todo norte da Europa. Estas publicações foram aproveitadas por países que invejavam e temia os espanhóis dando um caráter injusto ás atividades da inquisição. Entretanto existe uma diferença entre colocar a inquisição num contexto e desculpar seus excessos. Essa vontade de branquear a lenda negra faz com que estudiosos cometam sérios erros, como a afirmativa de que a tortura foi raramente aplicada.
O combate entre o medo e a capacidade de resistir ressalta o drama da inquisição. O medo ( julgamento e condenação a morte, pela ruína social e financeira) se infiltrou em todas as camadas da sociedade e era cuidadosamente cultivado pelos responsáveis. O medo era segurado pelo principio do sigilo e era para atingir fins políticos. O medo chegou a virar mito. O mito se formava no preciso momento em que os inquisidores chegavam a uma vila e liam seus editais de fé. Entretanto, foi o próprio medo que destruiu essa instituição, por instigar a rebelião.

Na parte “O fim da convivência” o autor destaca como se deu o processo de inserção da instituição inquisitorial. Em Saruel os autarcas tentaram resistir, mas em 1485 a inquisição começa a funcionar. Marcilla a usou para exterminar sua família de casamento e para chegar ao poder.
Em Saragoça tanto cristão-velho quanto cristão-novo não queria a presença da inquisição, mas mesmo assim ocorre e o primeiro auto-de-fé foi realizado em 1485. A fúria do povo foi dominada pelo medo.
Em Toledo houve concentração de poder, houvera perseguições de inimigos imaginários, foi uma antevisão da inquisição. Precisavam de um bode expiatório, e usaram os cristãos-novos. A violência contra eles cresceu rápido, já que eram odiados tanto pelos cristãos-velhos e pelos judeus.
Em Servilha que unia identidades mouras e cristãs, a inquisição é estabelecida em 1478, cujas razoes políticas e religiosa são distintas e reveladoras. Não era apenas o desejo de Fernando se apoderar dos pertences dos cristão-novos ou desejo papal de entender seu influencia, mas de reorientar a violência contra os eles. A religião era uma desculpa e não o motivo principal.
Na Ciudad Real, a Inquisição se estabelece em 1483 e com muitos processos. As provas eram confusas e referiam-se a fatos ocorridos a pelo menos 10 anos antes. Também aqui, o caráter político e não o religioso queimou tantos os bons cristãos como pessoas com crenças difusas. Contudo, concluímos que a inveja e a discórdia familiar estavam na origem de muitos processos, revelando que muitas das denuncias eram maliciosas.

Na parte “Fogueiras por toda a parte” repete um pouco o que já foi dito, mas em territórios de Portugal.
Em Évora, ocorreu em 1545, com acusação contra Álvaro Leão. Portugal com os refugiados da Espanha se enriquecera. Esse país que estava a crescer tinha que demonstrar seu poder, e resolver usá-los caçando mulçumanos. Muitas vezes as pessoas culpavam o familiar mais próximo. Não se tinha duvidas do que os cristãos-novos portugueses judaizavam mais do que os da Espanha, então D. João III poderia instalar a Inquisição, pois também tinha o apoio popular.     
Em Lisboa que era uma das cidades mais cosmopolitas D. Manuel queria expulsar os judeus, mas volta atrás e resolve torná-los cristãos. Mas depois de um fenômeno estranho que colocou uma luz no crucifixo (o cristão-novo que afirmou que era das velas) os cristãos novos começaram a ser perseguidos. Contudo a culpa foi de D. Manuel que com lutas interiores e puramente pessoais de governante somadas a sua vaidade, contribuiu para o estabelecimento da inquisição em Portugal.

No capitulo do “Inimigo interno”, temos como o medo começou a atingir toda a população e como a Inquisição se interessa por outros heréticos (em Valência foi os erasmianos iluminados e luteranos; em Murcia, os criptojudaicos e os mouriscos; em Valladolid também foram os mouriscos e criptojudaicos).

No capitulo “O terror envolve o mundo” demonstra como a Inquisição estava presente em todo o mundo. Tanto pela expansão portuguesa quanto pela espanhola. Portugal se destaca, pois expandiu sua influencia internacionalmente. A mais opressora inquisição portuguesa ocorreu em Goa, mas mesmo assim, a inquisição espanhola foi mais violenta.


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