sábado, 26 de novembro de 2011

Mobilidade social no renascimento

DELUMEAU, Jean. Mobilidade social: ricos e pobres. In: A civilização do Renascimento. V.1. Lisboa: Estampa, 1994. p. 277-293

No humanismo vemos a concretização de dois aspectos paradoxais: a afirmação das individualidades nacionais e a intensificação entre países. Segundo o autor, podemos ver estas interpenetrações nos campos de arte e cultura, onde há uma mobilidade física, ou como o próprio Delumeau chama de mobilidade horizontal. As emigrações se davam por “n” motivos: terras postas em cultivo e menos povoadas; compras e vendas de terrenos; casamentos com mudança de domicílios; atração da cidade e do seu mercado de trabalho, etc.

Cabe-nos assim perguntar: Em que medida foi esta mobilidade horizontal acompanhada de uma mobilidade vertical? Pois é obvio que aquelas pessoas que saiam do campo esperavam por alguma ascensão social, e ela estava em alguns títulos: Igreja, bens fundiários, comércios, ofícios, emigração para as colônias. Entretanto, a massa de pobres continuou enorme.
Também é verdade que o Renascimento ficou assinalado por êxitos individuais espantosos, homens que pelo seu nascimento não daríamos nada por eles (Da Vinci, Erasmo, etc.). Também, certas famílias subiram e decaíram de forma espetacular. Houve nessa época uma grande redistribuição de fortuna. A classe média do séc. XVI que por um saber profissional e por instrução que tinham originaram os artistas e o próprio público. Isto é, os burgueses italianos e flamengos foram permeáveis aos valores estéticos e intelectuais antes mesmo dos príncipes e nobres, e o renascimento vem justamente para marcar o momento em que estes compreendem a lição que chega de baixo. Com o poder do dinheiro, eles coroavam os poetas em cerimônias, faziam encomendas aos artistas. Resultado, um meio social intermediário incapaz de definir-se como classe desejando não voltar o que era.  Para Boutruche, a burguesia foi um estádio de transição ou um mundo em reorganização, onde o renascimento confirma e reforçam as estruturas sócias anteriores, isto é, admite serem nobres só os que têm dinheiro. Assim, os recém-enobrecidos aceitaram os valores que não provinham da cavalaria (predileção pela cidade, desejo de instrução), mas da nobreza (gosto pela aparência, apego aos bens fundiários, desprezo pelo trabalho). Conclui-se que a nobreza se aburguesou menos e a burguesia se afidalgou mais.

A renovação da nobreza é algo que podemos acompanhar ao longo dos sécs. XIV a XVI: promoção social; credores ou conselheiros dos príncipes; compram senhorios; casam seus filhos na classe dos nobres; Luis XI declara nobre todos os que possuem feudos. Mas estes conhecem o esgotamento do seu inicial dinamismo por não estarem abrigados das variações das conjunturas, do empobrecimento ocasionado pelos gastos de guerra e das modificações políticas. Daí a necessidade de uma mobilidade vertical. Assim, o renascimento conduziu uma consolidação da nobreza, que era a hierarquia tradicional.

Os burgueses não conseguiram adquirir uma mentalidade de classe, pois os rendimentos constituíram um obstáculo importante, pois os ricos se tornavam cada vez mais ricos9 porque aumentaram seus rendimentos devido a extensão do comercio e da banca, por causa das propriedades do campo, ou de ambos) e os pobres ficavam mais pobres (vitimas da alta dos preços e do aumento exorbitante dos impostos). Há assim, um alargamento do fosso entre o rico e o pobre, que se dá nas minúcias coisas, que vão desde organizar as residências, as danças e o teatro até o vestuário e a moda. A moda, não só da qualidade dos tecidos, mas da forma do vestuário principalmente masculina, corresponderam à subida do ocidente referente ao oriente. Entretanto, a moda foi um dos prazeres de quem tinha tempo livre e dinheiro.
Como vemos no texto da Etiqueta no antigo regime, a burguesia tenta copiar o estilo nobre (de se vestir, de conversar, de comer), mas estes fazem de tudo para se diferenciarem dos demais. Assim, os burgueses fingiam ser nobre, por isso a dificuldade de tomarem para si a consciência de classe.      
Em suma, o cerne da questão que o autor nos propõe em seu texto, é que a classe media aumentou numericamente, mas não foi a cara do renascimento, este papel coube a aristocracia.

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