quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A LEITURA E A APRENDIZAGEM DA/NA HISTORIA


Nas aulas de História não se ensinam a ler, somente se usam da leitura. Quando os alunos trabalham com textos, a leitura que fazem deles, é para aquisição de informações. Assim, a leitura não é considerada como uma ferramenta de trabalho para a construção do conhecimento histórico; só oferece elementos para ele. Os historiadores consideram que o conhecimento histórico se constrói a partir da leitura e concebem os textos de livros como “a ferramenta mais importante no ensino da história” cuja finalidade é “tornar possível, impulsionar e favorecer a aprendizagem da historia”.

No seu texto, a autora Beatriz, tenta desenvolver uma análise de entrevistas de leitura querendo esboçar como os alunos ao lerem um texto histórico, tendem a estabelecer as relações entre a leitura e as operações necessárias para a construção do conhecimento histórico. Para isto, ela privilegia um aspecto do processo de leitura: as relações entre os conhecimentos prévios do leitor sobre o tema e a informação explícita do texto, tomando como marco referencial os processos de assimilação na construção do conhecimento.

Foram realizadas dez entrevistas a quatorze alunos voluntários de três escolas públicas da Cidade de Buenos Aires. As entrevistas se iniciaram com a apresentação de seu propósito e depois, os pesquisadores pediram as crianças que lessem o texto levando o tempo que necessitavam para lê-lo. Ao terminarem tal leitura silenciosa, se fez perguntas abertas para que as crianças comentassem o texto. Num primeiro momento, pode-se afirmar que as crianças estabelecem uma relação causal ausente no texto entre informações explicitadas, isto é, conseguem articular de forma coerente algumas informações do texto com conhecimentos prévios e anteriores, mostrando um trabalho intelectual que vai muito mais além de extrair do texto as informações. Ou seja, o leitor é capaz de aprender e compreender o texto se sua leitura está ligada ao que ele conhece e crê antes da leitura. Enfim, os conhecimentos prévios são, para a autora, ferramentas intelectuais que permite pensar e integrar as informações. Portanto, a leitura requer a construção do conhecimento histórico pela busca das explicações levando em consideração a perspectivas dos sujeitos da História. Assim, de acordo com Beatriz, se trata, de um trabalho compatível com a construção do conhecimento histórico, sendo o estabelecimento de articulações entre os eixos um dos trabalhos mais ricos dos historiadores.

Nas entrevistas também fica claro que os alunos com maior conhecimento histórico alcançam melhores interpretações e tem mais facilidade para compreender o texto e participarem mais da aula inclusive tento a capacidade de questionar mais, por saberem mais. Assim, quando os entrevistadores pediram as crianças com menos conhecimentos informações sobre o texto, elas localizavam rapidamente a oração e respondiam acertadamente as perguntas, mas ficavam restritas ao texto. Contudo, para a autora, os alunos de forma igual na busca de significados, estabeleciam relações que lhes permitiam alcançar uma trama coerente, e, em determinadas situações, eles procuravam suprir suas lacunas de conhecimento inventando conexões entre as informações do texto para construirem uma trama que lhes resultassem como válidos.

De acordo com a entrevista, Beatriz diz que devido as análises apresentadas podem sintetizar que a relação entre a leitura e a aprendizagem da história se estabelece quando a leitura constrói significados na interação entre o leitor e o texto. Contudo, só é possível construir significados quando deslocamos conhecimentos compatíveis com algumas operações necessárias para a construção do conhecimento histórico: criar e recriar representações sobre os eixos, relacioná-los e explicar como estaão conectados numa trama consistente que dê conta dos “por que” dos eixos e da intencionalidade dos sujeitos, reorganizando o conhecimento anterior e incorporar nele um novo conhecimento. Enfim, segundo Beatriz, em certas condições, ler história é aprender historia, pois a idéia de que “lendo se aprende” não parece suficiente para caracterizar a leitura de textos históricos. A autora também distingue a análises das leituras das entrevistas da leitura em sala de aula, dizendo que está constitui uma própria modalidade de leitura. Por isto, ela acha necessário que se pense numa modalidade de leitura compatível com a construção do conhecimento histórico. Assim parece que os alunos que mais ajuda necessitam para aprender Historia muitas vezes são os que menos proveito podem ter das explicações e diálogos coletivos.

Beatriz também ressalva que esta análise realizada questiona a idéia vigente de que formar leitores autónomos é sinónimo de deixar os alunos lerem sozinhos. Para ela, o pensamento é ao contrario, já que acredita que para se iniciar os alunos numa formação progressiva como leitores autónomos em Historia seja preciso um intenso acompanhamento dos professores. Por isto ela propõe que para uma leitura para a aprendizagem da Historia se tenha um equilíbrio entre o espaço necessário para que os alunos assumam o desafio de ler; entre as intervenções do professor para ajudar aos alunos a alcançarem interpretações mais corretas sobre os textos e entre as informações necessárias que não estão no texto mas que são indispensáveis para compreendê-lo.

No texto de Ivo, ele considera o texto como algo central para a História, porque é dele que depende a qualidade do que compreendemos e aprendemos sobre historia. Para ele, a investigação histórica supõe que se remeta ao texto histórico e tal texto adquire uma relevância epistemológica dentro da investigação já que as interpretações historiográficas se baseiam nos textos que são o ponto de referencia para aceitar ou rejeitar a reconstrução ou a explicação de um acontecimento histórico.

Quanto ao ensino de história, Ivo diz que podemos constatar que o texto histórico influencia nos conhecimentos do professor e influencia também na valorização da aprendizagem ao converter-se numa unidade de medida do que aprende os alunos. Assim, se fizermos referência a aprendizagem, tal processo se produz através da leitura de textos e do trabalho incessante sobre os mesmos. Assim, segundo tal autor, do texto se procede os conhecimentos adquiridos para os alunos. Enfim, o texto é um instrumento regulador e mediador entre a didática e a organização dos processos de aprendizagem. E esta, é a premissa que legitima e sustenta a finalidade de se ensinar a escrever na história.

Ivo ressalva de que ensinar história, ensinar a aprender conhecimentos históricos e ensinar a escrever sobre a história são três atividades didáticas coordenadas que se desempenham com eficácia se levarmos em conta as estruturas de um texto histórico que tem como objetivo construir o conhecimento de um eixo do passado individualizado como objeto de reconstrução e de análise de interpretações por parte do historiador a partir de uma retrospectiva do presente.
Depois, Ivo irá descrever as estruturas do texto histórico como a tematização do eixo que necessita de um nome e de atribuições de significados a tal seleção numa articulação temática da informação que ajudam ao aluno a entender que tema vão estudar, que significado lhe quer transmitir para que ele vá formando uma competência critica. Falará da reconstrução que se configura conforme uma espécie de matriz mental que tem um inicio, desenvolvimento e conclusão que levam o leitor a se situar nos blocos textuais. Também falará da problematização e explicação onde citará a relação explicativa dos eixos que são sempre hipotéticas e estão sempre submetidas a continuas revisões.

O autor falará ainda dos blocos textuais, funções cognitivas e estrutura da composição do texto sabendo que este funciona comunicativamente se o leitor põe em funcionamento sua estrutura operativa, no qual supõe um desafio para ele, já que lhe obriga a refinar suas competências cognitivas, então cada um dos blocos textuais cumprem as funções de construir o conhecimento do leitor já que os textos históricos estão compostos por uma variedade muito mais ampla de elementos informativos e de uma grande quantidade de elementos que retira o historiador, que não são informações puras e que ajudam a entender o eixo.

Tratará também das conceituações que parecem desempenhar um papel estratégico na construção do conhecimento por não se poder narrar, descrever estruturas, ou expor processo sem a utilização de conceitos históricos que ajudem a compreender o passado, assim, para o autor, os conceitos históricos são instrumentos singulares: por um lado, permitem a compreensão de porque possuem múltiplos e, por outro lado são continuas fontes de mal-entendidos, portanto, se faz necessário que se ensine aos alunos a analisar-los. Também para Fernando, o aprendizado de conceitos são ferramentas para entender o mundo.

E ainda também falará da estrutura da conexão já que nos blocos textuais, as informações se relacionam tematicamente com a finalidade de formar grupos de eixos coerentes que permitam construir um conhecimento global; temporalmente com a finalidade de dar consistência a operação historiográfica envolvendo a compreensão da sucessão, contemporaneidade e dando significados a duração e a segmentação dos eixos em períodos, ciclos e conjunturas, e espacialmente, determinando a escala de observação e de representação dos eixos, em sua localização e no seu significado. Citará também a compreensão do texto e a estruturação do tipo histórico em que o professor deve pensar em ensinar ao aluno a desestruturar o texto para poder codificá-lo de outro modo e reestruturá-lo se os professores preparem condições adequadas.

Ivo ressalva que ao trabalhar os textos seguindo as práticas de desestruturar e reestruturá-los, os estudantes então poderão passar a elaborar textos escritos. Pois ele entende que um texto se constrói com a finalidade de se construir mapas de conhecimento na mente do leitor, e que tais mapas, reduzem e selecionam os elementos representativos. Assim, para que um mapa de conhecimento seja apropriado para um trabalho de reescrita, é necessário suportes. Enfim, para tal autor, se queremos que os alunos entendam os textos de historia, primeiro terão que aprender a analisar os textos; depois descodificar a estrutura dos blocos textuais, e, por fim, terão que aprender a trabalhar antes de tudo em textos curtos e homogéneos que tratem só de um eixo histórico.

Já no texto de Fernando, ele continuará a tratar das questões relacionadas a importância das atividades de leitura e escrita na aula de História, por não conseguir imaginá-la sem a escrita e a leitura. Ele objetiva fazer uma formação dos alunos para eles serem capazes de realizar uma leitura densa e crítica do mundo. No seu texto em um primeiro momento ele traçará vínculos de leitura e escrita com a história através da identidade, memória e da historicidade das práticas leitoras. Nesta parte ele afirma que saber ler e escrever significa estar alfabetizado, mas que estar alfabetizado não significa que o aluno integre a leitura e a escrita no seu modo de pensar e estar no mundo. Ele relata que as práticas de leitura não são mais extensivas, são mais utilitárias e menos literárias, e que temos dificuldade na leitura contínua e intensiva pois a leitura ainda não se constitui para a maioria como fonte de conhecimento sobre o mundo. Assim, quando as pessoas desenvolvem uma competência para a leitura, ela contribui para a formação de um cidadão mais pleno, e nesse caso, ler um texto histórico seria discutir suas raízes, seu local de enunciação, seu projeto, etc. Enfim, a leitura irá propiciar a aquisição de um vocabulário histórico específico configurando o aprendizado de conceitos que são ferramentas para entender o mundo.

Por fim, o autor, enfocará a sala de aula através de duas questões: “o que se espera que o aluno leia em história?”, e “o que se espera que um aluno escreva em história?”. Quanto a primeira questão, Fernando concordando com Ivo, dirá que o professor deverá organizar atividades em sala de aula levando o aluno a ler documentação histórica diversa, desde o livro didático até os escritos clássicos, porém, salientando os procedimentos usados pelos seus autores. Quanto a segunda, o autor considera que a leitura e a escrita de textos históricos devem levar em conta a necessidade de explicitação e utilização de conceitos. Cabe-nos uma pergunta: quais as condições necessárias para que se desenvolva a competência de escrever sobre a historia? Segundo Ivo, é necessário que: se veja o texto histórico como ferramenta de mediação didática; se induza aos alunos a considerar a historia como uma assinatura oral e textual; que se trabalhe com vários tipos de textos; que os professores levem em conta as competências da escritura do tipo histórico pelos alunos ao produzirem os seus textos, e, que os próprios professores provem a escrever sobre a historia. Se considerarmos que ler é compreender o mundo, escrever seria intervir na sua modificação, ou seja, seria o aluno se posicionar frente à discussão. Fernando, ressalta que não podemos permitir que as atividades de leitura e de escrita na história virem burocracia e decoreba. Para ele, nós devemos lutar para que o aluno construa uma postura crítica e filosófica frente aos textos. E salienta que o que o aluno escreve não pode ficar restrito entre ele e o professor, mas deverá ser ampliado para os outros alunos e pelo colégio. Assim, ao se ampliar a circulação de tal texto, aumenta-se a vontade e o interesse de se escrever, e contribui para qualificar a argumentação e ponto de vista do aluno na medida em que ele terá contato com outros textos.

Antes de concluir, queria ressaltar uma fala da Beatriz quanto a leitura crítica, que para ela “quando alguém começa a ler e reconstruir, já está indo pelo caminho crítico. Não há leitura que não seja crítica, principalmente quando se trabalha a reconstrução do mundo histórico do texto”. Vale ressalvar também, o que Paulo Freire disse quanto ao assunto da leitura crítica. Segundo este autor, a leitura crítica implica que o leitor se assuma como sujeito inteligente e desvelador do texto. Nesse sentido, o leitor crítico seria aquele que “reescreve” o que lê, aquele que "recria” o assunto da leitura em função dos seus próprios critérios. Já o leitor não-crítico funcionaria como um repetidor paciente e dócil do que 1ê, não havendo assim uma apreensão do significado do texto mas uma espécie de justaposição, de colagem, de aderência. Assim, para o autor, pode-se ter um texto crítico com uma leitura ingênua e um texto ingênuo com uma leitura crítica, que reescreve e supera a ingenuidade do texto. Essa superação só é possível pela leitura crítica que é aquela que fundamentalmente sabe situar num contexto o que está sendo lido.


Portanto, há um desafio quanto a leitura. Contudo, sabemos que o conhecimento histórico pode se apoiar na leitura de outros textos de outras áreas já que todo texto é datado e vinculado a determinada visão de mundo ou conjuntura. E também já sabemos que para escrever um texto histórico, é necessário dominar uma pluralidade de conhecimentos para organizá-los em una rede de informações, nexos e conceitos, e, para se ensinar a escrever sobre a história, faz-se necessário a seleção de melhores textos de boa qualidade como ponto de partida.  

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