quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Resenha "O sujeito na vila: vontade de poder e ressentimento"


Neste texto, o autor Vagner fará uma análise do que até qual ponto precisamos da verdade, ou de uma verdade para viver, analisando o filme “A vila” e alguns elementos do pensamento de Nietzsche. O autor inicia com duas passagens bíblicas no evangelho de João sobre a verdade. Depois de fazer esta pequena introdução, ele passará a falar sobre o filme que se passa numa pequena vila rural cercada por uma floresta que esconde criaturas que os moradores se referem sempre como “aqueles de que não falamos”, analisando o que a vila significava, as bases para o seu funcionamento e os seus problemas. O autor terminará o seu resumo do filme no crime cometido por um dos moradores contra outro morador que permitirá que Ivy, uma moça cega e filha de um dos anciãos, atravesse a floresta em busca de medicamentos para o morador ferido, que é o seu amado.
Na parte sobre a verdade dos anciãos e a vontade de poder e fundamentalismo, Vagner começará a falar o que é fundamentalismo, que é o comportamento e idéias radicais e extremadas que se encontram na base da realidade. Ele fala que o fundamentalismo dos anciãos é um ato de vontade de poder, conceito de Nietzsche, e de ressentimento. De imediato, ele já vai dizer que a vontade de poder é a característica expansiva da vida e depois no decorrer do texto estabelecerá algumas das características que caracterizam a vontade de poder. Voltando a questão do fundamentalismo, o autor, dirá que ele é um ressentimento com um mundo que se modificou e se modifica, e que enquanto for um esforço que paralise experiências vividas no tempo, será, um medo do porvir e das mudanças que ele trará.
A primeira das características é a imposição da vontade, já que as “grandes personalidades” não estavam preocupados com os outros ou com o futuro, mas queriam apenas imprimir no mundo sua vontade, aparência e força.
A segunda é a irracionalidade e Vagner pega uma citação de Nietzsche para dizer que a vontade do poder não atua através de cálculos nos quais se escolhe o prazer e evita a dor, isto seria uma visão muito utilitarista. Ele leva esta reflexão para o filme e afirma que os fundadores da vila não a criaram apenas para fugir da dor e do sofrimento mas para criar um mundo no qual sua vontade de poder não fosse superada. Ele conclui dizendo que não era a dor da morte que os fundadores fugiam, mas a dor da incapacidade por não enfrentarem uma realidade que os feriu e marcou.
Uma terceira característica da vontade de poder é a consciência, isto é, o assumir compromissos e responsabilidades. Os fundadores assumiam uma responsabilidade, não com o futuro ou com os jovens, mas com os outros fundadores que queriam continuar com a vila e suas regras. Vagner, vai dizer que esta pretensão é um exercício de vontade de poder e que enfim, os fundadores, são moralistas, utilitaristas e fundamentalistas.
Uma outra característica do poder, é a mentira. Mentir é criar novas realidades. Numa parte do seu texto, Vagner dirá que a vila foi uma verdade além do bem e do mal, ela foi uma obra-prima da mentira. Assim, ele tentará definir o que é verdade e o que é mentira através de Nietzsche. A verdade seria uma aceitação coletiva da mentira que se constitui a partir de uma série de relações políticas de poder que para serem mantidas como verdade sua origem deve ser esquecida e tomada como sagrada. Já as mentiras, seria os instrumentos da mentira coletiva, as palavras, para designar coisas que não são coincidentes com a designação geral. Assim, cabe-nos uma pergunta: o que preferir, a verdade ou a mentira? Lembrando que aquilo que hoje é verdade e um dia já foi mentira e mais importante do que escolher entre uma e outra, é saber, qual das duas aumenta a quantidade de poder. Nietzsche conclui dizendo que a mentira muitas vezes supera a verdade nas vontades de poder. Vagner então propõe uma questão: os fundadores da vila mentem? E ele responde: sim, eles mentem, mas a mentirá assume um papel diferente dependendo da pessoa. Porém, a mentira não é errada, não é o mal? A pergunta é ela mesma uma contradição, já que esta moral é uma mentira coletivamente aceita, e, atentar contra verdade, seria atentar contra a coletividade. O importante aqui, é que as mentiras nunca esqueçam sua origem e nem se tomem como dogmas.
O autor diz que a vila tinha uma moral (entende-se por moral como uma mentira peculiar e perigosa por ela ser uma mentira que busca a verdade e se esquece que é mentirosa) que os seus fundadores seguiam por não poderem deixar que os outros moradores soubessem da verdade sobre a vila e sobre o mundo paralelo ao da vila, e, para os mais jovens, tal moral, significava a obediência ao pacto de não atravessar a linha estabelecida entre os que “aqueles de que não falamos” e os anciãos estabeleceram. Perceba que Vagner nos incita a pensar numa moral com duplo sentido: ela favorece a vida mas também pode ser uma proteção contra o horror da verdade. Vagner também chamará atenção para o comportamento utilitarista do sr. Walker, que foi ao mesmo tempo o fundador da vila e o que rompeu com a moral da vila ao permitir que sua filha Ivy saísse da vila, que representa o ressentimento máximo, por permitir que a regra fosse quebrada se não sentenciaria a vila ao próprio fim. Enfim, a moral e a mentira que a moral representa protegeu aos que não poderiam enfrentar a terrível verdade.
Vagner também chamará a atenção para o niilismo que, segundo ele, abria duas grandes possibilidades: o ressentimento e o niilismo ativo. Para o autor, a vila seria uma vontade de poder ressentida pois não consegue afirmar a vida e passa a negá-la em todas as suas pulsões. Segundo Nietzsche, citado por Vagner, o ressentimento tem um duplo sentido: é o próprio saudosismo, isto é, saudade de uma experiência vivida, que não se pode repetir mais; e, é uma mágoa contra o acontecido, que não pode ser revivido ou desfeito. Daí, dá-se para perceber que são questões não resolvidas com o passado, que radica todo o ressentimento. Quanto ao niilismo ativo, o autor, dirá que é encarar a ausência de fundamentos e fins na existência, como a possibilidade de criação. Se nada disso existir, que o homem faça uso da mentira criativa para criar tudo.

Vagner termina o seu texto refletindo sobre o final do filme que representa uma espécie de redenção moralista onde se morre um inocente e faz uma analogia com a morte de Jesus dizendo que é o sangue derramado que fortalece a moral, que para os fundadores da vila, permiti-os reafirmarem suas vontades e que seguissem os objetivos de quando se criou ela.  

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