quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O ensino de História e a compreensão do tempo histórico: algumas possibilidades


Neste seminário, os textos propostos para discussão, vem nos ajudar a pensar sobre o ensino e aprendizagem da temporalidade histórica nas crianças. Nos textos de Pagés, vemos uma preocupação grande com a importância que tem para o cidadão e cidadã saber da formação da temporalidade, da construção de uma consciência histórica, da compreensão da mudança e da continuidade para compreenderem o que está sucedendo e tentar modificar aquilo que não funciona conservando aquilo que funciona. Também falará da evolução do ensino da temporalidade e do tempo histórico e apresentará propostas inovadoras e sugestões de idéias para se ensinar o tempo histórico. Segundo o mesmo autor, o tempo é um conceito de grande complexidade. Ele é historia, a nossa e a de todas as pessoas, é passado coletivo, é a interrelação de passado, presente e futuro. Teremos ainda as características do contexto temporal da aprendizagem da temporalidade e da consciência histórica. Pagés, já fala que se somos algo hoje, somos porque somos filhos do nosso tempo. De acordo com o referido autor, o tempo é indissociável do espaço, e, cada território, cada lugar, acumula elementos que nos explicam as transições e as rupturas, os conflitos de cada geração. E assim parece ser necessário tanto conhecer as características socais do nosso tempo como considerar a maneira em que os alunos e alunas compreendem o tempo e a representação que tem dele para tentar estabelecer as relações necessárias entre o presente, o passado e o futuros possível.

Joan também trará para refletir o papel da história que trata do presente pois esta é vista com maus olhos por pessoas que reivindicam um distanciamento entre o que se estuda e quem o estuda, assim, boa parte dos professores, não conseguem nem se quer chegar na história do século XXI, deixando os acontecimentos atuais a cargo de outras disciplinas, como a geografia por exemplo. Assim, Pagés não querendo desmerecer os outros conteúdos da história, afirma que conhecer o século XX é de suma importância para se conhecer o século XXI. E finaliza o seu texto dizendo que a chave para se ensinar a história e o tempo histórico é transmitir uma imagem positiva do futuro, como sendo uma parte da nossa temporalidade que está por construir e que se materializará a partir da nossa própria ação. Só assim, o conhecimento histórico e social poderá encontrar o seu significado e a sua funcionalidade que mais importa para uma construção do pensamento histórico. Indo contra a ciência newtoniana, que considera que o tempo histórico é linear, acumulativo, Pagés, nos informa que está emergindo uma nova representação do tempo histórico já que há uma historiografia mais crítica reivindicando uma nova concepção de temporalidade para uma nova interpretação da história.

Como Pagés entende as finalidades do ensino de história? Para o autor, o ensino da história, na escola primaria, tem de mostrar que o tempo está presente em todas as nossas ações ou experiências, em nosso pensamento, em nossa linguagem e em nossas narrações, e, é na educação primária que se estabelecem as bases do conhecimento histórico como conhecimento da temporalidade, da compreensão dos antecedentes, do passado, que nos ajudam a compreender o presente e que, inevitavelmente, nos ajudam a projetar o futuro. Ele ainda dirá que esta finalidade pode se desenvolver através de aspectos ligados a um domínio técnico, cronológico, ideológico que esteja relacionado com uma estrutura epistémica do saber histórico e de sua construção.

O texto nos permite fazer algumas outras questões. E o ensino do tempo histórico? Para Joan o ensino do tempo histórico deve-se fazer levando em conta a necessidade da compreensão dos diversos conceitos que formam nossa temporalidade, como as relações entre o passado, o presente e o futuro, a compreensão da mudança e o significado do progresso. Mas qual a importância da aprendizagem do tempo histórico? Segundo Pagés, a aprendizagem do tempo histórico pode ajudar a estruturar o conhecimento sobre a história se ela é realizada considerando que: a escola supere o ensino de uma história de museu, que representa o tempo histórico como uma acumulação de dados e datas; deve basear-se nas relações entre passado, presente e futuro, a nível pessoal e social; tem que partir do tempo presente e dos problemas dos alunos; devem questionar as categorias temporais que se apresentam como categorias naturais, quando são construções sociais; não devemos ensinar só uma determinada periodização, mas também devemos ensinar a periodizar; a cronologia deve ser ensinada com uma série de conceitos temporais básicos, como a mudança, a duração, a sucessão, os ritmos temporais ou as qualidades do tempo histórico etc. Enfim, o autor nos aponta uma saída de uma história positivista que é pautada numa concepção cronológica, linear e memorizável.

Como devemos ensinar o tempo histórico? De acordo com Pagés, quando se pretende que os alunos desenvolvam o pensamento sobre o tempo, as fontes históricas se convertem em elementos centrais do processo de ensino e aprendizagem, pois elas nos permitem compreender as mudanças e nos oferecem possibilidades para compreender uma realidade anterior. Como se constrói o tempo histórico na educação primaria? Para este mesmo autor, a história pessoal é um recurso importante na construção do pensamento e do tempo histórico na educação primaria, por nos permitir dispor de um campo de aplicação para os diferentes conceitos relativos de tempo histórico, assim como outros conhecimentos da história mais factual. Enfim, a história pessoal não é só uma aprendizagem da temporalidade, ela também ajuda no desenvolvimento fundamental das capacidades narrativas, na análise das fontes e, também, na comparação cronológica e na relação com acontecimentos históricos simultâneos ou paralelos.

Alguns trabalhos, baseando-se no de Piaget, tem se preocupado em demonstrar como as crianças entre 7 e 10 anos compreendem o processo de construção da aprendizagem em História, utilizando o método clínico que consiste em um questionamento feito à criança sob forma de conversa livre. Cito assim, a pesquisa de Sandra Oliveira, realizada com alunos de uma escola em Londrina, Paraná, tentando identificar nas crianças três aspectos a respeito do conhecimento histórico: noção de passado não vivido, idéias espontâneas relativas à história da civilização e a questão da relatividade histórica. 

Vale ressalvar que para cada tipo de pergunta, a autora, encontrou três tipos de respostas: a afirmativa, a negativa e, a dos intermediários, que não tinham certeza da resposta. Os resultados obtidos na pesquisa, segundo a autora, foram muitos semelhantes aos de Piaget. Oliveira percebe que a criança analisa os acontecimentos através de sua lógica operatória entendendo que o tempo histórico é uma construção causal e não meramente cronológica. Nota também que a inversão da temporalidade é uma características própria do pensamento de crianças de sete anos, e estas, explicam o presente através do passado, e não o contrário.

Na questão do descobrimento do Brasil e se a história de Tiradentes ocorreu antes ou depois da descoberta do Brasil, para observar como o passado é entendido, de acordo com as respostas das crianças, Oliveira concluiu que os acontecimentos históricos são contados pelas crianças a partir de uma lógica delas e que a criança justifica a ordem cronológica através da relação causal entre os dois fatos e não o faz, só pela sequência numérica dos anos, pois a relação causal também é mais lógica para ela. Para saber como as crianças tinham idéias espontâneas relativas à história da civilização, a autora pergunta se no passado tinham algumas das coisas que elas conheciam no presente, e chega a conclusão de já que a análise da criança parte do presente, tudo o que conhecem sempre existiu no passado, só que de maneira diferente. Quanto a relatividade do conhecimento histórico, se questionou se a história de Tiradentes é estudada apenas no Brasil ou é estudada por outras crianças no mundo, e Oliveira, conclui dizendo que a criança por partir de uma análise egocêntrica, julgando que como esta história é importante para ela, então, é importante para todos.

Identificando que a criança não interpreta a história como uma série de acontecimentos sem nenhuma ligação, a autora se propõe refletir e repensar sobre a prática do ensino de história nas séries iniciais. Ela cita uma história expositiva, linear e memorável frente a uma história crítica, dinâmica. Contudo, de acordo com as pesquisas de Oliveira, percebe-se que as crianças interpretam a história da maneira como os professores de história querem, que é com lógica, que busque relações de causa e efeito entre os acontecimentos, e, que possuem um saber histórico coerente com seu nível de pensamento. Assim, a autora conclui que a construção da noção de tempo histórico e de História consiste na busca de lógica entre os acontecimentos históricos para poder explicar a realidade, e exige assim, um profissional bem preparado explicitando as causalidades entre os acontecimentos, a cadeia que se estabelece entre os homens de diferentes tempos e diferentes lugares.

No texto coisas do amor, temos uma narrativa de como ocorreu um dos mais belos sentimentos humanos, o amor. O que impressiona no livro e na exposição é a capacidade que o museu tem de unir as pessoas, os sentimentos, as gerações em uma forma tão bela de proclamar tal sentimento. Neste texto, está presente os vários tempos e as várias histórias. Os objetos selecionados para a exposição tinham uma intencionalidade e através deles, poderíamos tirar conclusões sobre o imaginário social, político e cultural do século XX.

Em suma, os textos apresentam a temática do tempo, da história, da aprendizagem e do ensino do tempo histórico. Podemos concluir que o tempo é um conceito bastante complexo de se entender e de se ensinar. Contudo, temos a consciência que toda criança tem uma lógica para mostrar o que ela abstraiu. Se não for uma lógica cronológica, será casual, se não for casual, será uma outra qualquer, contudo, elas sempre agiram por uma lógica. Os textos, principalmente os de Pagés, nos mostram um outro caminho possível para se construir um aprendizado histórico que seja válido para o aluno. Os alunos pedem mudança, a historiografia pede mudança e os professores de história devem pedir e fazer a mudança.

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