Neste seminário, os textos propostos para discussão, vem nos
ajudar a pensar sobre o ensino e aprendizagem da temporalidade
histórica nas crianças. Nos textos de Pagés, vemos uma preocupação
grande com a importância que tem para o cidadão e cidadã saber da
formação da temporalidade, da construção de uma consciência
histórica, da compreensão da mudança e da continuidade para
compreenderem o que está sucedendo e tentar modificar aquilo que não
funciona conservando aquilo que funciona. Também falará da evolução
do ensino da temporalidade e do tempo histórico e apresentará
propostas inovadoras e sugestões de idéias para se ensinar o tempo
histórico. Segundo o mesmo autor, o tempo é um conceito de grande
complexidade. Ele é historia, a nossa e a de todas as pessoas, é
passado coletivo, é a interrelação de passado, presente e futuro.
Teremos ainda as características do contexto temporal da
aprendizagem da temporalidade e da consciência histórica. Pagés,
já fala que se somos algo hoje, somos porque somos filhos do nosso
tempo. De acordo com o referido autor, o tempo é indissociável do
espaço, e, cada território, cada lugar, acumula elementos que nos
explicam as transições e as rupturas, os conflitos de cada geração.
E assim parece ser necessário tanto conhecer as características
socais do nosso tempo como considerar a maneira em que os alunos e
alunas compreendem o tempo e a representação que tem dele para
tentar estabelecer as relações necessárias entre o presente, o
passado e o futuros possível.
Joan também trará para refletir o papel da história que trata do
presente pois esta é vista com maus olhos por pessoas que
reivindicam um distanciamento entre o que se estuda e quem o estuda,
assim, boa parte dos professores, não conseguem nem se quer chegar
na história do século XXI, deixando os acontecimentos atuais a
cargo de outras disciplinas, como a geografia por exemplo. Assim,
Pagés não querendo desmerecer os outros conteúdos da história,
afirma que conhecer o século XX é de suma importância para se
conhecer o século XXI. E finaliza o seu texto dizendo que a chave
para se ensinar a história e o tempo histórico é transmitir uma
imagem positiva do futuro, como sendo uma parte da nossa
temporalidade que está por construir e que se materializará a
partir da nossa própria ação. Só assim, o conhecimento histórico
e social poderá encontrar o seu significado e a sua funcionalidade
que mais importa para uma construção do pensamento histórico. Indo
contra a ciência newtoniana, que considera que o tempo histórico é
linear, acumulativo, Pagés, nos informa que está emergindo uma nova
representação do tempo histórico já que há uma historiografia
mais crítica reivindicando uma nova concepção de temporalidade
para uma nova interpretação da história.
Como Pagés entende as finalidades do ensino de história? Para o
autor, o ensino da história, na escola primaria, tem de mostrar que
o tempo está presente em todas as nossas ações ou experiências,
em nosso pensamento, em nossa linguagem e em nossas narrações, e, é
na educação primária que se estabelecem as bases do conhecimento
histórico como conhecimento da temporalidade, da compreensão dos
antecedentes, do passado, que nos ajudam a compreender o presente e
que, inevitavelmente, nos ajudam a projetar o futuro. Ele ainda dirá
que esta finalidade pode se desenvolver através de aspectos ligados
a um domínio técnico, cronológico, ideológico que esteja
relacionado com uma estrutura epistémica do saber histórico e de
sua construção.
O texto nos permite fazer algumas outras questões. E o ensino do
tempo histórico? Para Joan o ensino do tempo histórico deve-se
fazer levando em conta a necessidade da compreensão dos diversos
conceitos que formam nossa temporalidade, como as relações entre o
passado, o presente e o futuro, a compreensão da mudança e o
significado do progresso. Mas qual a importância da aprendizagem
do tempo histórico? Segundo Pagés, a aprendizagem do tempo
histórico pode ajudar a estruturar o conhecimento sobre a história
se ela é realizada considerando que: a escola supere o ensino de uma
história de museu, que representa o tempo histórico como uma
acumulação de dados e datas; deve basear-se nas relações entre
passado, presente e futuro, a nível pessoal e social; tem que partir
do tempo presente e dos problemas dos alunos; devem questionar as
categorias temporais que se apresentam como categorias naturais,
quando são construções sociais; não devemos ensinar só uma
determinada periodização, mas também devemos ensinar a periodizar;
a cronologia deve ser ensinada com uma série de conceitos temporais
básicos, como a mudança, a duração, a sucessão, os ritmos
temporais ou as qualidades do tempo histórico etc. Enfim, o autor
nos aponta uma saída de uma história positivista que é pautada
numa concepção cronológica, linear e memorizável.
Como devemos ensinar o tempo histórico? De acordo com Pagés,
quando se pretende que os alunos desenvolvam o pensamento sobre o
tempo, as fontes históricas se convertem em elementos centrais do
processo de ensino e aprendizagem, pois elas nos permitem compreender
as mudanças e nos oferecem possibilidades para compreender uma
realidade anterior. Como se constrói o tempo histórico na educação
primaria? Para este mesmo autor, a história pessoal é um recurso
importante na construção do pensamento e do tempo histórico na
educação primaria, por nos permitir dispor de um campo de aplicação
para os diferentes conceitos relativos de tempo histórico, assim
como outros conhecimentos da história mais factual. Enfim, a
história pessoal não é só uma aprendizagem da temporalidade, ela
também ajuda no desenvolvimento fundamental das capacidades
narrativas, na análise das fontes e, também, na comparação
cronológica e na relação com acontecimentos históricos
simultâneos ou paralelos.
Alguns trabalhos, baseando-se no de Piaget, tem se preocupado em
demonstrar como as crianças entre 7 e 10 anos compreendem o processo
de construção da aprendizagem em História, utilizando o método
clínico que consiste em um questionamento feito à criança sob
forma de conversa livre. Cito assim, a pesquisa de Sandra Oliveira,
realizada com alunos de uma escola em Londrina, Paraná, tentando
identificar nas crianças três aspectos a respeito do conhecimento
histórico: noção de passado não vivido, idéias espontâneas
relativas à história da civilização e a questão da relatividade
histórica.
Vale ressalvar que para cada tipo de pergunta, a autora,
encontrou três tipos de respostas: a afirmativa, a negativa e, a dos
intermediários, que não tinham certeza da resposta. Os resultados
obtidos na pesquisa, segundo a autora, foram muitos semelhantes aos
de Piaget. Oliveira percebe que a criança analisa os acontecimentos
através de sua lógica operatória entendendo que o tempo histórico
é uma construção causal e não meramente cronológica. Nota também
que a inversão da temporalidade é uma características própria do
pensamento de crianças de sete anos, e estas, explicam o presente
através do passado, e não o contrário.
Na questão do descobrimento do Brasil e se a história de
Tiradentes ocorreu antes ou depois da descoberta do Brasil, para
observar como o passado é entendido, de acordo com as respostas das
crianças, Oliveira concluiu que os acontecimentos históricos são
contados pelas crianças a partir de uma lógica delas e que a
criança justifica a ordem cronológica através da relação causal
entre os dois fatos e não o faz, só pela sequência numérica dos
anos, pois a relação causal também é mais lógica para ela. Para
saber como as crianças tinham idéias espontâneas relativas à
história da civilização, a autora pergunta se no passado tinham
algumas das coisas que elas conheciam no presente, e chega a
conclusão de já que a análise da criança parte do presente, tudo
o que conhecem sempre existiu no passado, só que de maneira
diferente. Quanto a relatividade do conhecimento histórico, se
questionou se a história de Tiradentes é estudada apenas no Brasil
ou é estudada por outras crianças no mundo, e Oliveira, conclui
dizendo que a criança por partir de uma análise egocêntrica,
julgando que como esta história é importante para ela, então, é
importante para todos.
Identificando que a criança não interpreta a história como uma
série de acontecimentos sem nenhuma ligação, a autora se propõe
refletir e repensar sobre a prática do ensino de história nas
séries iniciais. Ela cita uma história expositiva, linear e
memorável frente a uma história crítica, dinâmica. Contudo, de
acordo com as pesquisas de Oliveira, percebe-se que as crianças
interpretam a história da maneira como os professores de história
querem, que é com lógica, que busque relações de causa e efeito
entre os acontecimentos, e, que possuem um saber histórico coerente
com seu nível de pensamento. Assim, a autora conclui que a
construção da noção de tempo histórico e de História consiste
na busca de lógica entre os acontecimentos históricos para poder
explicar a realidade, e exige assim, um profissional bem preparado
explicitando as causalidades entre os acontecimentos, a cadeia que se
estabelece entre os homens de diferentes tempos e diferentes lugares.
No texto coisas do amor, temos uma narrativa de como ocorreu um dos
mais belos sentimentos humanos, o amor. O que impressiona no livro e
na exposição é a capacidade que o museu tem de unir as pessoas, os
sentimentos, as gerações em uma forma tão bela de proclamar tal
sentimento. Neste texto, está presente os vários tempos e as várias
histórias. Os objetos selecionados para a exposição tinham uma
intencionalidade e através deles, poderíamos tirar conclusões
sobre o imaginário social, político e cultural do século XX.
Em suma, os textos apresentam a temática do tempo, da história, da
aprendizagem e do ensino do tempo histórico. Podemos concluir que o
tempo é um conceito bastante complexo de se entender e de se
ensinar. Contudo, temos a consciência que toda criança tem uma
lógica para mostrar o que ela abstraiu. Se não for uma lógica
cronológica, será casual, se não for casual, será uma outra
qualquer, contudo, elas sempre agiram por uma lógica. Os textos,
principalmente os de Pagés, nos mostram um outro caminho possível
para se construir um aprendizado histórico que seja válido para o
aluno. Os alunos pedem mudança, a historiografia pede mudança e os
professores de história devem pedir e fazer a mudança.
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