A escola, ou, mais precisamente, a sala de aula, foi compreendida
neste texto com base no princípio anunciado logo no início: um
lugar como tantos outros, de aprendizagem de saberes necessários
para a vida. Porém, a complexidade que se encerra no que definimos
por ‘vida’ não se encaixa na forma pela qual trabalhamos com os
saberes na escola. Ou, dito de outra forma: nos saberes escolares, muitas vezes, não há
espaço para a vida. Apropriando-nos das reflexões de Pineau e Le
Grand sobre histórias de vida e aproximando-as de nosso objeto de
discussão (a escola), perguntamo-nos: o fato de considerar a vida em
sua totalidade não vai de encontro ao paradigma disciplinar que
recorta essa vida em pedaços para compreendê-la?O obstáculo que se coloca para professores, formadores de
professores e pesquisadores, ao assumir a escola como lugar de
aprendizagem para a vida e sobre a vida, é vencer a ideia de que tal
posição afasta a escola de sua função como lugar de saberes
científicos, “por isso, torna-se problemática a presença
semiclandestina, não apenas dessa noção, mas, sobretudo, dessas
práticas indisciplinadas” (Pineau; Le Grand, 2010, p.86).
Esse desafio começa a ser enfrentado ao assumirmos dois argumentos:
primeiro, que o conhecimento científico também compõe o que
denominamos ‘vida’ e, desapegado da sua relação com a busca dos
seres humanos por ‘aprender a viver’, torna-se estéril e sem
significado para ser ensinado na escola. Em segundo lugar, é preciso
assumir que, na escola mais do que em qualquer outro espaço,
interagem diferentes tipos de conhecimentos que compõem a ‘vida’,
e essa situação é muito salutar para o processo de aprendizagem de
qualquer conhecimento científico.
Forquin considera a escola inserida em um determinado contexto
cultural e social, que dialoga com as demandas desse mundo quanto aos
saberes a serem trabalhados. Esse autor adverte, porém, que a escola
“não pode tampouco estar completamente a reboque desta demanda,
nem se regular por ela, seguindo mimeticamente todas as suas
expressões, todas as suas contradições e todas as suas
metamorfoses”. Estaríamos à frente de uma questão paradoxal?
Como aliar o ensino de conhecimentos científicos com a aprendizagem
de saberes necessários para a vida? A resposta transita por entender os problemas cotidianos como
elementos propulsores de uma prática pedagógica voltada para
resolução de problemas, de forma tal que as reflexões atinjam
patamares diferenciados quanto ao uso do conhecimento.
A relação entre resolução de problemas e aprendizagem é
postulada por diversos autores, dentre os quais destacamos Jean
Piaget. Para esse autor, o sujeito frente a uma situação-problema,
ou seja, uma situação que não é resolvida por meio dos
conhecimentos que já possui, busca outros saberes com o intuito de
ultrapassar a barreira da não possibilidade. Aliamo-nos àqueles que
defendem um ensino, em qualquer área de conhecimento, pautado no
espírito investigativo, porque aprender é estabelecer relações
entre informações, produzindo conhecimento no intento de solucionar
problemas de diferentes tipologias.
Na esteira dessa definição, entende-se que ensinar algo na escola é
propor problemas, gerar demandas que precisam ser resolvidas com base
em determinados saberes, com ênfase progressiva na utilização do
saber científico. No decorrer de nossas vidas, dentro e fora da
escola, as não possibilidades se apresentam das mais variadas formas
e não podem ser agrupadas em fáceis ou difíceis. Tornar possível
o que em algum momento nos é impossível é o grande desafio e força
motriz na produção do conhecimento.
Compreendemos que aprender a viver em sociedade não é uma situação
rotineira, tampouco trivial, e são muitos os saberes envolvidos
nessa seara. Saberes que, como os demais, são ensinados e aprendidos
em vários espaços sociais. A escola é um desses espaços, mas à
medida que os alunos crescem, é comum na cultura escolar separar os
saberes científicos, ensinados como conteúdos das disciplinas
escolares, dos saberes necessários para viver em sociedade. Esses
saberes extrapolam a lógica disciplinar, assim como extrapolam o
espaço e o tempo escolar. Por isso a ousadia em denominá-los
‘saberes indisciplinados’.
O ensino e a aprendizagem de diferentes saberes na escola só são
possíveis se nos situarmos no campo da vida, e não apenas da
sobrevida. É comum estabelecermos uma relação de causa e efeito entre
condição financeira e dificuldade de aprendizagem que, em sua
maioria, relaciona-se com a ausência de uma postura padrão esperada
para frequentar os bancos escolares. Sabemos que são muitas as
variáveis a serem analisadas quando se discute a razão pela qual os
alunos não aprendem e não absorvem o conteúdo.
A questão econômica, assim como o perfil familiar, não pode ser
apontada como a única ou a mais importante característica a ser
analisada. Ao selecionar os conteúdos da História e a metodologia a
ser utilizada em sala, tem-se um recurso importante que contribui na
interpretação de si e dos
outros, na compreensão de quem somos, do que podemos ser e do
entendimento e valorização de nossas bagagens sociais, trazidas da
convivência familiar. Acontece que, muitas vezes, ao trabalhar com
conceitos de temáticas do tipo ‘quem sou eu’ e ‘família’,
por exemplo, reforçamos um modelo que segrega e afasta aqueles que
não se moldam ao padrão sugerido como ideal. Justificamos a não
aprendizagem indicando que o aluno está fora do padrão.
Para Montoya, um dos principais problemas das crianças com
dificuldade de aprendizagem é a falta de oportunidade de realizar
trocas simbólicas no meio social, ou seja, exteriorizar suas
impressões. Tal fato prejudica o processo de construção do
conhecimento, porque sem troca, sem retorno dos outros, o sujeito não
tem elementos balizadores que permitam entender a si próprio.
Todos os trabalhos realizados com a turma, desde então, finalizavam
com rodas de discussões, cuja devolutiva pautava-se em três
categorias: o que estava muito bom, o que precisava melhorar um pouco
e o que precisava melhorar muito. Um feedback claro, positivo, aliado
ao desafio de propor desafios para ampliar o cabedal de conhecimento,
uma prática pedagógica essencial nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. É nesse período que as crianças constroem um conjunto
de crenças sobre a sua capacidade intelectual e psicossocial,
basilares para o sucesso escolar.
Sobre a formação do professor para os anos iniciais. Entendemos que
a ação de tal profissional pode ser compreendida com base na imagem
de um caleidoscópio: saberes com epistemologias específicas que
formam desenhos diversos com o reflexo dos espelhos. Os saberes estão lá, cada um com sua cor e forma, e somente a sua
diversidade gera a possibilidade do desenho. O desenho chama a
atenção da criança. Para compor o desenho escolhem-se as cores e o
tamanho dos espelhos. Um universo de possibilidades se compõe com
algumas cores e formatos. Saber construir tal instrumento, saber
compor os saberes tendo em vista os desenhos que se deseja formar é
o que denominamos ‘autonomia’.
Outro fator a ser considerado no processo de formação do professor
para o trabalho com crianças é ditado pela diferença entre ensinar
história para saber informações sobre o passado e ensinar história
para pensar historicamente o mundo. Ainda que a segunda aprendizagem
possa incluir a primeira, o reverso não se faz verdadeiro, e pode-se
perfeitamente transmitir conjuntos de informações sem que elas
estabeleçam conexões com a forma como o sujeito compreende a sua
vida e sua ação na sociedade, projetando o futuro. Para compreender
a vida, o sujeito precisa fazer uma tessitura entre passado, presente
e futuro. A essa capacidade cognitiva denominamos ‘pensar
historicamente’.
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