O autor inicia o seu texto nos provocando com a seguinte afirmação
“ A universalidade e a pretendida eternidade da Escola são pouco
mais do que uma ilusão”. Por que ele diz isso? Bem, ele nos
provoca a pensar que a escola não é algo que sempre existiu, mas é
uma construção histórica em que as pessoas tentam remeter a sua
origem em um tempo remoto, assim, tal instituição se torna
inquestionável por ser pensada de maneira naturalizada. Os autores
pensam exatamente o contrário, a escola enquanto forma de
socialização e lugar de passagem obrigatória para as crianças é
uma instituição recente cujas bases contam com pouco mais do que um
século de existência, ou seja, a escola nem sempre existiu.
Cabe-nos aqui uma outra pergunta: como surgiu então a escola? Os
autores dizem que a maquinaria de governo, se referindo a escola, não
apareceu do nada, mas, fora reunindo e instrumentalizando uma série
de dispositivos que emergiram e se configuraram a partir do século
XVI. Portanto, trata-se de conhecer como se montaram e aperfeiçoaram
as peças que possibilitaram a constituição dessa maquinaria. A
partir desse momento, os autores começaram a esboçar cinco
instâncias fundamentais que, para eles, permitiram o aparecimento da
chamada escola nacional: a definição de um estatuto da infância; a
emergência de um espaço específico destinado à educação das
crianças; o aparecimento de um corpo de especialistas da infância
dotados de tecnologias específicas e de "elaborados"
códigos teóricos; a destruição de outros modos de educação e a
institucionalização propriamente dita da escola.
Na definição de um estatuto da infância, os autores tentam
historicizar as diferentes infâncias que abarcam desde a infância
angélica e nobilíssima do Príncipe, passando pela infância de
qualidade dos filhos das classes distinguidas, até a infância rude
das classes populares, tomando a infância como mortal, não natural
e como uma instituição social recente ligada a práticas
familiares, modos de educação e a classes sociais. Ressaltam que a
infância no século XVI não era um conceito fechado e nem
cronologicamente preciso, e os autores divergiam não só a respeito
dos períodos que denominam a infância - puerícia e mocidade -
mas também a respeito do momento em que convém começar a
ensiná-los as letras. Segundo os autores, há três influências
básicas que são decisivas na constituição progressiva da
infância: a ação educativa institucional; a ação educativa da
recém estreada família cristã; e, uma ação educativa difusa que
está vinculada às práticas de recristíanização. Deste modo
chegamos ao século XVIII, com uma infância inocente e razoável.
Finalizando esta parte, os autores, citam Philippe Ariès por ele ter
demonstrado que a infância, tal como hoje a percebemos, começa-se a
configurar fundamentalmente a partir do século XVI, e, Ariès nos
ajuda a compreender como se elabora historicamente o estatuto de
infância, relacionando a constituição da infância com as classes
sociais, com a emergência da família moderna, e com uma série de
práticas educativas. Contudo, eles afirmam que Ariés relega a um
segundo plano as táticas empregadas no recolhimento e moralização
dos meninos pobres, impedindo de perceber que a constituição da
infância de qualidade forma parte de um programa político de
dominação. Os autores concluem que assim como a constituição da
infância de qualidade aparece estreitamente vinculada à família,
praticamente desde seus começos, a da infância necessitada foi em
seus princípios o resultado de um programa de intervenção direta
do governo.
Quanto à emergência de um espaço específico destinado à
educação das crianças, os autores, afirmam que as novas
instituições fechadas, destinadas ao recolhimento e a instrução
dos jovens, que emergem a partir do século XVI têm em comum a
funcionalidade ordenadora, regulamentadora e sobretudo
transformadora do espaço para servir como maquinaria de
transformação da juventude. No entanto, tais autores, já
ressaltam que este espaço fechado não é homogêneo e que em
virtude da maior ou menor qualidade da natureza dos educandos e
reformandos irão diferir as disciplinas, flexibilizar os espaços,
enfim, abrandar os destinos dos estudantes. Nesta parte também
falaram da diferença abismal que existe entre os preceptores
domésticos, os colégios e "as escolas de primeiras
letras" destinadas aos filhos dos pobres através da política
de recolhimento. Diram que tal política se assenta no adestramento
para os ofícios, a moralização e fabricação de súditos
virtuosos. Atentam para o fato do programa não tratar unicamente de
diferenças de conteúdos e atividades, mas, também, pela dureza do
enclausuramento, o rigor dos castigos, o submetimento às ordens,
etc.
Na parte do aparecimento de um corpo de especialistas da infância
dotados de tecnologias específicas e de "elaborados"
códigos teóricos, chegaram a hipótese de que são nos colégios
que se ensaiarão as formas concretas de transmissão de
conhecimentos e de modelação de comportamentos que ao longo de pelo
menos dois séculos suporão a aquisição de todo um acúmulo de
saberes codificados resultando assim no aparecimento da pedagogia e
de seus especialistas. Também falaram da influência dos jesuítas
que desde o momento de sua emergência no ensino lutaram por uma
modificação a respeito do clássico e arquetípico mestre exigindo
a substituição dos métodos drásticos de intimidação por
intervenções mais doces e individualizadoras, uma séria
programação dos conteúdos e uma aplicação de métodos de ensino,
etc. Enfim, eles acabam produzindo uma ruptura com relação ao
professor das universidades e instituições educativas medievais
cuja autoridade baseava-se fundamentalmente na posse e na transmissão
de determinados saberes, enquanto que o professor jesuíta era um
modelo de virtude. Este novo modelo de mestre implica que, além de
possuir conhecimentos, só ele tem as chaves de uma correta
interpretação da infância assim como do programa que os alunos
teriam de seguir para adquirir os comportamentos e os princípios que
correspondem à sua idade. Ainda citaram a Ratio studiorum, que
regulamentava a ocupação do espaço e do tempo do aluno de forma
tal que ele ficava passivo frente a tudo dificilmente podendo
questionar a separação por seções, os freqüentes exercícios
escritos, os distintos níveis de conteúdo, os prêmios, recompensas
e certames aos quais se vê submetido. Também falaram dos
escolápios que apresentam semelhanças formais com os jesuítas,
pela adoção da Ratio studiorum com guia de sua prática educativa.
Vão se diferenciar pelo fato de serem os únicos nos países que
recolhem e depositam os meninos em suas casas, acompanham-nos
formando filas e cantando cânticos religiosos com o fim de
subtraí-los aos perigos da rua e realizam ao mesmo tempo um trabalho
de apostolado com suas famílias. Os novos especialistas recebem
agora uma formação controlada pelo Estado e ministrada em
instituições especiais, as Escolas Normais. O objetivo primordial é
que desempenhem funções de acordo com a nova sociedade em vias de
industrialização, em que a posição do professor, as
características institucionais da escola obrigatória, os interesses
do Estado, os métodos e técnicas de transmissão do saber e o
próprio saber escolar contribuam para modelar um novo tipo de
indivíduo, desclassificado em parte, dividido, individualizado.
Na penúltima parte que fala da destruição de outros modos de
educação, os autores, tratará da destruição e desvalorização
de formas de vida diferentes e relativamente autônomas com o
aparecimento dos colégios de jesuítas inaugurando uma nova forma de
socialização que rompe a relação existente entre aprendizagem e
formação; relação que existia tanto nos ofícios manuais como no
ofício das armas e inclusive em outras ocupações liberais. Nesta
parte, o autor tentará a todo momento colocar em paralelo a
instituição escolar medieval que tinha uma clara dimensão
política e caracterizavam-se pela mistura de idades dos estudantes,
pela simultaneidade dos ensinamentos, pela quase ausência de exames,
se adquiriam os conhecimentos necessários para o exercício de
clérigo, enfim, era uma espécie de grêmios onde aprendizagem e
formação estavam unidas, e, a dos jesuítas que estavam separados
do poder político, que dá as bases para uma tutela e uma
infantilização dos colegiais, o saber é propriedade pessoal do
professor, enfim, o colégio converte-se num lugar no qual se ensina
e se aprende um amontoado de banalidades que nada tem haver com a
prática. Ele não diz qual delas é a mais viável, apenas apresenta
as suas formas.
Na última parte que falará da institucionalização propriamente
dita da escola, os autores, tratam-na como um dispositivo que têm
por finalidade educar ao menino trabalhador a obedecer, inculcar-lhe
a virtude da obediência e a submissão à autoridade e à cultura
legitima, inculcar-lhes que o tempo é ouro e o trabalho disciplina e
que para serem homens e mulheres de princípios e proveito, têm de
renunciar a seus hábitos de classe, etc. Os autores ressaltam também
que aos métodos de individualização característicos das
instituições fechadas se soma a emergência no interior da escola
um dispositivo fundamental: a carteira, que supõe uma distância
física e simbólica entre os alunos e o grupo, e, portanto, uma
vitória sobre a indisciplina. Os autores também concordam que as
quatro questões anteriormente tratadas reorganizam-se, consolidam-se
e adquirem novas dimensões com a institucionalização da escola. O
professor aplicará, a partir do final do século XIX, às classes
pobres as noções de singularidade e especificidade infantil
diferente da cunhada e assimilada anteriormente pelas classes altas.
O professor, ao se sentir superior às massas ignorantes, não
admitirá sua forma de vida educativa, resultando assim, na
incapacidade de se produzir em conseqüência uma relação de
igualdade, de entendimento e reforço entre família e escola.
Para concluir, queria ressaltar que é um texto bastante instigante
e informativo. Os autores tendem a todo momento dizer que a educação
é uma luta política e de dominação, onde as classes mais ricas
tendem a impor uma dominação disfarçada aos trabalhadores,
dominando eles desde a infância, através da escola, que tinha como
objetivo a transformação das crianças em futuros trabalhadores
assentando-se numa desculpa velada de um pretendido direito: o
direito de todos à educação. É um excelente texto mas contém
alguns erros de exageros e de falta de posição frente ao tema. Mas
como nada é totalmente satisfatório, creio que o texto conseguiu
fazer uma boa discussão.
Quais erros o texto possui ?
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