Neste texto, o autor Vagner fará uma análise do que até qual
ponto precisamos da verdade, ou de uma verdade para viver, analisando
o filme “A vila” e alguns elementos do pensamento de Nietzsche. O
autor inicia com duas passagens bíblicas no evangelho de João sobre
a verdade. Depois de fazer esta pequena introdução, ele passará a
falar sobre o filme que se passa numa pequena vila rural cercada por
uma floresta que esconde criaturas que os moradores se referem sempre
como “aqueles de que não falamos”, analisando o que a vila
significava, as bases para o seu funcionamento e os seus problemas. O
autor terminará o seu resumo do filme no crime cometido por um dos
moradores contra outro morador que permitirá que Ivy, uma moça cega
e filha de um dos anciãos, atravesse a floresta em busca de
medicamentos para o morador ferido, que é o seu amado.
Na parte sobre a verdade dos anciãos e a vontade de poder e
fundamentalismo, Vagner começará a falar o que é fundamentalismo,
que é o comportamento e idéias radicais e extremadas que se
encontram na base da realidade. Ele fala que o fundamentalismo dos
anciãos é um ato de vontade de poder, conceito de Nietzsche, e de
ressentimento. De imediato, ele já vai dizer que a vontade de poder
é a característica expansiva da vida e depois no decorrer do texto
estabelecerá algumas das características que caracterizam a vontade
de poder. Voltando a questão do fundamentalismo, o autor, dirá que
ele é um ressentimento com um mundo que se modificou e se modifica,
e que enquanto for um esforço que paralise experiências vividas no
tempo, será, um medo do porvir e das mudanças que ele trará.
A primeira das características é a imposição da vontade, já que
as “grandes personalidades” não estavam preocupados com os
outros ou com o futuro, mas queriam apenas imprimir no mundo sua
vontade, aparência e força.
A segunda é a irracionalidade e Vagner pega uma citação de
Nietzsche para dizer que a vontade do poder não atua através de
cálculos nos quais se escolhe o prazer e evita a dor, isto seria uma
visão muito utilitarista. Ele leva esta reflexão para o filme e
afirma que os fundadores da vila não a criaram apenas para fugir da
dor e do sofrimento mas para criar um mundo no qual sua vontade de
poder não fosse superada. Ele conclui dizendo que não era a dor da
morte que os fundadores fugiam, mas a dor da incapacidade por não
enfrentarem uma realidade que os feriu e marcou.
Uma terceira característica da vontade de poder é a consciência,
isto é, o assumir compromissos e responsabilidades. Os fundadores
assumiam uma responsabilidade, não com o futuro ou com os jovens,
mas com os outros fundadores que queriam continuar com a vila e suas
regras. Vagner, vai dizer que esta pretensão é um exercício de
vontade de poder e que enfim, os fundadores, são moralistas,
utilitaristas e fundamentalistas.
Uma outra característica do poder, é a mentira. Mentir é criar
novas realidades. Numa parte do seu texto, Vagner dirá que a vila
foi uma verdade além do bem e do mal, ela foi uma obra-prima da
mentira. Assim, ele tentará definir o que é verdade e o que é
mentira através de Nietzsche. A verdade seria uma aceitação
coletiva da mentira que se constitui a partir de uma série de
relações políticas de poder que para serem mantidas como verdade
sua origem deve ser esquecida e tomada como sagrada. Já as mentiras,
seria os instrumentos da mentira coletiva, as palavras, para designar
coisas que não são coincidentes com a designação geral. Assim,
cabe-nos uma pergunta: o que preferir, a verdade ou a mentira?
Lembrando que aquilo que hoje é verdade e um dia já foi mentira e
mais importante do que escolher entre uma e outra, é saber, qual das
duas aumenta a quantidade de poder. Nietzsche conclui dizendo que a
mentira muitas vezes supera a verdade nas vontades de poder. Vagner
então propõe uma questão: os fundadores da vila mentem? E ele
responde: sim, eles mentem, mas a mentirá assume um papel diferente
dependendo da pessoa. Porém, a mentira não é errada, não é o
mal? A pergunta é ela mesma uma contradição, já que esta moral é
uma mentira coletivamente aceita, e, atentar contra verdade, seria
atentar contra a coletividade. O importante aqui, é que as mentiras
nunca esqueçam sua origem e nem se tomem como dogmas.
O autor diz que a vila tinha uma moral (entende-se por moral como
uma mentira peculiar e perigosa por ela ser uma mentira que busca a
verdade e se esquece que é mentirosa) que os seus fundadores seguiam
por não poderem deixar que os outros moradores soubessem da verdade
sobre a vila e sobre o mundo paralelo ao da vila, e, para os mais
jovens, tal moral, significava a obediência ao pacto de não
atravessar a linha estabelecida entre os que “aqueles de que não
falamos” e os anciãos estabeleceram. Perceba que Vagner nos incita
a pensar numa moral com duplo sentido: ela favorece a vida mas também
pode ser uma proteção contra o horror da verdade. Vagner também
chamará atenção para o comportamento utilitarista do sr. Walker,
que foi ao mesmo tempo o fundador da vila e o que rompeu com a moral
da vila ao permitir que sua filha Ivy saísse da vila, que representa
o ressentimento máximo, por permitir que a regra fosse quebrada se
não sentenciaria a vila ao próprio fim. Enfim, a moral e a mentira
que a moral representa protegeu aos que não poderiam enfrentar a
terrível verdade.
Vagner também chamará a atenção para o niilismo que, segundo
ele, abria duas grandes possibilidades: o ressentimento e o niilismo
ativo. Para o autor, a vila seria uma vontade de poder ressentida
pois não consegue afirmar a vida e passa a negá-la em todas as suas
pulsões. Segundo Nietzsche, citado por Vagner, o ressentimento tem
um duplo sentido: é o próprio saudosismo, isto é, saudade de uma
experiência vivida, que não se pode repetir mais; e, é uma mágoa
contra o acontecido, que não pode ser revivido ou desfeito. Daí,
dá-se para perceber que são questões não resolvidas com o
passado, que radica todo o ressentimento. Quanto ao niilismo ativo, o
autor, dirá que é encarar a ausência de fundamentos e fins na
existência, como a possibilidade de criação. Se nada disso
existir, que o homem faça uso da mentira criativa para criar tudo.
Vagner termina o seu texto refletindo sobre o final do filme que
representa uma espécie de redenção moralista onde se morre um
inocente e faz uma analogia com a morte de Jesus dizendo que é o
sangue derramado que fortalece a moral, que para os fundadores da
vila, permiti-os reafirmarem suas vontades e que seguissem os
objetivos de quando se criou ela.
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