quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Resenha do texto "O Carnaval da tristeza: os motins urbanos do 24 de agosto", de Jorge Ferreira

Jorge Ferreira em seu belo texto, pretende analisar como a notícia da morte de Getúlio Vargas foi recebida pela multidão. Chegando na conclusão de que os brasileiros resistiram em acreditar na notícia e partiram para as ruas almejando atingir os oposicionistas ao governo getulista, Ferreira acredita que é através dos protestos é que podemos observar a mentalidade política e social da época. 

Ao longo do texto, veremos que, ao contrário de um pensamento histórico que explica que os sentimentos das “pessoas comuns” que tomaram conta das ruas do país foram de pouca importância e sem capacidade de intervenção frente as decisões dos grandes atores políticos, Ferreira acredita que foram as manifestações populares que revoltados e amargurados assustou e ameaçou os oposicionistas que queriam tomar o poder. Assim, os populares, causaram grandes problemas às autoridades , obrigando a imprensa a registrar suas manifestações.

Vale ressalvar que o nome do texto de Ferreira é “O carnaval da tristeza: os motins urbanos do 24 de agosto” e ele faz a comparação entre o carnaval e os motins pois estes seguem a mesma lógica dos foliões já que as interdições foram suspensas e as hierarquias subvertidas. Enfim, tínhamos um movimento de produção de símbolos para derrubarem Vargas do governo e desmoralizá-lo politicamente. Contudo, não se teve o efeito desejado, e os símbolos se voltaram contra os seus forjadores, fazendo com que a população discordasse dos oposicionistas e fizessem tais ações contra a tristeza que sentiam, ao perderem o seu pai-protetor.

O objetivo de Jorge Ferreira é, como ele mesmo afirma no início do seu texto, ao resgatar e trazer para o centro as manifestações de tristeza e revolta da população urbana brasileira, diante da morte de Vargas, afirmar que tais manifestações foram um episódio decisivo para desarticular o movimento oposicionista que estava em curso naquele momento.

Para Ferreira, as ações populares, por todo o país, mas principalmente no Rio de Janeiro que era a capital do país, foram elementos decisivos para a desarticulação do movimento político oposicionista para a tomada do poder. Assim, os populares, causaram grandes problemas às autoridades, obrigando a imprensa a registrar suas manifestações, e, a sua tomada das ruas não foram de pouca importância e, portanto, tiveram uma potência frente aos rumos novos que o país tomaria.

O autor é bastante feliz ao usar de toda uma literatura conceitual para dialogar com os acontecimentos políticos que ocorreram no dia da morte de Vargas. Ao falar da construção de símbolos e significados por parte dos oposicionistas, ele não poderia deixar de citar a contribuição de Chartier para o pensamento, já que ele nos oferece o conceito de representação. Ao falar de representação, não poderia deixar de fora do diálogo, o conceito de imaginário social de Ansart. Se o mundo simbólico criado pelos oposicionistas não passavam de um teatro, nada mais favorável do que chamar para a conversa o Balandier, com o seu conceito de teatocracia. Por mais que sejam autores que nunca sentaram para uma conversa, o pensamento deles tende a contribuir um para o outro, e Ferreira, sabe usá-los para escrever o seu texto, de uma forma muito elucidativa e envolvente.


O texto de Ferreira, foi muito importante para a minha visão aprimorada do período. Antes, não tinha notícias de como a população recebeu e agiu ao saber da morte de um dos mais lembrados ou senão o mais lembrado presidentes do país. Ferreira faz um texto muito envolvente, claro, e com uma profundidade imensa. É um texto com uma potência comunicativa, educativa, histórica e literária. Se eu tivesse o lido antes para o meu artigo sobre a morte de Vargas, com certeza estaria nas minhas referências. 

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