Jorge Ferreira em seu belo
texto, pretende analisar como a notícia da morte de Getúlio Vargas
foi recebida pela multidão. Chegando na conclusão de que os
brasileiros resistiram em acreditar na notícia e partiram para as
ruas almejando atingir os oposicionistas ao governo getulista,
Ferreira acredita que é através dos protestos é que podemos
observar a mentalidade política e social da época.
Ao longo do
texto, veremos que, ao contrário de um pensamento histórico que
explica que os sentimentos das “pessoas comuns” que tomaram conta
das ruas do país foram de pouca importância e sem capacidade de
intervenção frente as decisões dos grandes atores políticos,
Ferreira acredita que foram as manifestações populares que
revoltados e amargurados assustou e ameaçou os oposicionistas que
queriam tomar o poder. Assim, os populares, causaram grandes
problemas às autoridades , obrigando a imprensa a registrar suas
manifestações.
Vale ressalvar que o nome do texto de Ferreira é “O carnaval da
tristeza: os motins urbanos do 24 de agosto” e ele faz a comparação
entre o carnaval e os motins pois estes seguem a mesma lógica dos
foliões já que as interdições foram suspensas e as hierarquias
subvertidas. Enfim, tínhamos um movimento de produção de símbolos
para derrubarem Vargas do governo e desmoralizá-lo politicamente.
Contudo, não se teve o efeito desejado, e os símbolos se voltaram
contra os seus forjadores, fazendo com que a população discordasse
dos oposicionistas e fizessem tais ações contra a tristeza que
sentiam, ao perderem o seu pai-protetor.
O objetivo de Jorge Ferreira é, como ele mesmo afirma no início do
seu texto, ao resgatar e trazer para o centro as manifestações de
tristeza e revolta da população urbana brasileira, diante da morte
de Vargas, afirmar que tais manifestações foram um episódio
decisivo para desarticular o movimento oposicionista que estava em
curso naquele momento.
Para Ferreira, as ações
populares, por todo o país, mas principalmente no Rio de Janeiro que
era a capital do país, foram elementos decisivos para a
desarticulação do movimento político oposicionista para a tomada
do poder. Assim, os populares, causaram grandes problemas às
autoridades, obrigando a imprensa a registrar suas manifestações,
e, a sua tomada das ruas não foram de pouca importância e,
portanto, tiveram uma potência frente aos rumos novos que o país
tomaria.
O autor é bastante feliz
ao usar de toda uma literatura conceitual para dialogar com os
acontecimentos políticos que ocorreram no dia da morte de Vargas. Ao
falar da construção de símbolos e significados por parte dos
oposicionistas, ele não poderia deixar de citar a contribuição de
Chartier para o pensamento, já que ele nos oferece o conceito de
representação. Ao falar de representação, não poderia deixar de
fora do diálogo, o conceito de imaginário social de Ansart. Se o
mundo simbólico criado pelos oposicionistas não passavam de um
teatro, nada mais favorável do que chamar para a conversa o
Balandier, com o seu conceito de teatocracia. Por mais que sejam
autores que nunca sentaram para uma conversa, o pensamento deles
tende a contribuir um para o outro, e Ferreira, sabe usá-los para
escrever o seu texto, de uma forma muito elucidativa e envolvente.
O texto de Ferreira, foi
muito importante para a minha visão aprimorada do período. Antes,
não tinha notícias de como a população recebeu e agiu ao saber da
morte de um dos mais lembrados ou senão o mais lembrado presidentes
do país. Ferreira faz um texto muito envolvente, claro, e com uma
profundidade imensa. É um texto com uma potência comunicativa,
educativa, histórica e literária. Se eu tivesse o lido antes para o
meu artigo sobre a morte de Vargas, com certeza estaria nas minhas
referências.
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